O GP1 recebeu uma denúncia de que policiais militares do 8º Batalhão da Polícia Militar (BPM) estão sofrendo ameaças de morte, após as prisões de PMs acusados de roubo, associação ao tráfico e furto na Operação Largitio. No total foram presos dois cabos identificados como Edvaldo Gomes da Silva e Francisco Vieira Lima no último dia 29 de novembro deste ano.
De acordo com o denunciante, que preferiu não se identificar, após serem realizadas as prisões, um de seus familiares que é lotado no 8º BPM, começou a receber ameaças de morte, pois alguns militares estariam sendo acusados de entregar os que foram presos após investigações do 21º Distrito Policial, sob coordenação do delegado Odilo Sena.
“Eles estão enviando recado aos demais PMs do batalhão, pois eles atribuem as prisões a denúncias de colegas, o que não é verdade, não houve denúncia de PM do oitavo, pois a investigação surgiu do serviço de inteligência. Eu tenho um familiar que trabalha no oitavo, ele está sendo ameaçado de morte por parte dos dois cabos que foram presos. Eles mandaram dizer de dentro do presídio que ao saírem vão matar meu parente mais a equipe, que é composta por quatro policiais”, informou.
O que diz a PM
A reportagem do GP1 entrou em contato nesta quinta-feira (5) e sexta-feira (6) com o comandante do 8º Batalhão da Polícia Militar, major Wilton e com o comandante-geral da Polícia Militar no Piauí, coronel Lindomar Castilho, mas não obteve retorno.
Operação Largitio
Em entrevista ao GP1 o delegado Odilo Sena informou que a dupla agia associada a traficantes da região e utilizava-se da função de policial para roubar e facilitar o comércio de drogas.
“Eles foram presos por uma série de crimes, roubo, associação para o tráfico, furto, enfim. A capitulação ainda vai ser delimitada no relatório, todos cometidos em razão do serviço deles, usando farda e tudo mais. Eles quebram bocas de fumo para que o outro traficante aumentasse seu domínio e recebiam por isso”, explicou.
Informações do 8º BPM eram vazadas
Segundo o major Wilton, comandante do 8º Batalhão da Polícia Militar, os policias que foram presos ainda eram responsáveis por vazar informações sobre operações do 8º BPM. Eles acompanhavam as anotações do comandante em um quadro na corporação e logo depois informavam os criminosos.
“Exemplo que eu tenho bem claro, é que o delegado me falou que ele ouviu falar de alguém, que meu gabinete, se vocês forem lá, tem um quadro lá que eu comprei, nós conseguimos um quadro para as minhas anotações diárias, que eu anoto lá. O delegado me perguntou se eu tinha um quadro branco, que eu consegui recentemente, para você ver que ele copiou isso no local de tráfico”, ressaltou o comandante.
Desvio de materiais
Ainda de acordo com o major Wilton, os policiais já foram investigados por receberem dinheiro de bocas de fumo, roubarem materiais apreendidos em abordagens e desviarem armas apreendidas.
“Recebiam dinheiro de boca de fumo, usurpavam armamento que era pego em blitz, em situações diversas. Não chegavam onde eram para chegar, como na Central de Flagrantes, eram desviados. Com certeza, passavam para traficantes e voltava para o mundo do crime novamente”, ressaltou.
Como agiam os policiais envolvidos
As investigações da Polícia Civil deram conta que os policiais realizavam extorsões contra os traficantes na localidade, onde era feita a apreensão indevida de materiais frutos de roubos na região do 8º Batalhão da Polícia Militar e do 21º Distrito Policial.
“Os envolvimentos deles eram principalmente com extorsão, que tinham como vítimas os traficantes, também os viciados. Quando populares eram roubados, os policiais abordavam esses ladrões, esses traficantes até mesmo na própria boca de fumo e os materiais que eram encontrados, como máquinas, celulares, dinheiro eram arrecadados por esses policiais e não prestavam contas como todo o policial deveria fazer”, informou.
Valores cobrados
Como modo de coagirem os criminosos a pagarem algum valor financeiro, os policiais iam presencialmente em bocas de fumo, onde armas de fogo e entorpecentes eram levados e assim que os policiais conseguiam receber o pagamento cobrado, o material voltava a circular na criminalidade.
“Os traficantes eram constrangidos a pagarem algum valor para eles, ou eram presos. Então era um círculo vicioso, as armas eram tiradas e colocadas de novo à disposição do tráfico e muitas vezes, as informações da Polícia Civil e da PM eram divulgadas, com isso as operações eram falhadas, pois eles tinham informações privilegiadas. Os valores das extorsões eram dos mais variados, R$ 50, R$ 200, R$ 500 e, às vezes, eram em próprio entorpecente, armas”, ressaltou.
Policiais civis envolvidos
A Polícia Civil chegou a tomar conhecimento dos policiais civis envolvidos quando foram presos dois PMs do 8º Batalhão na Operação Largitio. As informações sobre os agentes foram encaminhadas para a Corregedoria da Polícia Civil do Piauí.
“Como envolve policial, esse é o tipo de investigação é o pior tipo que a gente pode fazer. Além de ser um colega que trabalha conosco no dia-a-dia, arrisca a vida junto com a gente, é uma situação extremamente constrangedora, extremamente difícil para mim, para o comandante, é um negócio difícil para caserna, para a delegacia, é extremamente ruim”, disse.
Fonte: GP1