O pesquisador Paulo Gustavo de Alencar, em sua dissertação de Mestrado “Cajucultura no Semiárido Piauiense: Sistemas Agrários e Dinâmica Espacial” revela que, a partir de dados de 2016, o município de Pio IX teve uma área plantada de 18.487 hectares, uma produção de 3.327 toneladas e um faturamento de R$ 10,979 milhões.

Além de Pio IX, a pesquisa traz os outros municípios campeões em produção de caju, no semiárido piauiense. O município de Dom Expedito Lopes teve uma área plantada de caju em 1.754 hectares, com uma produção de 701 toneladas e um faturamento de R$ 2,454 milhões; São José do Piauí tinha uma área plantada de 795 hectares; uma produção de 358 toneladas e um faturamento de R$ 1,253 milhão; Cocal dos Alves tem uma área plantada de caju de 3.441 hectares, uma produção de 344 toneladas e faturamento de R$ 1,204 milhão; Cocal teve uma área plantada de 4.402 hectares; uma produção de 334 toneladas e um faturamento de R$ 1,169 milhão; o município de Geminiano teve uma área plantada de 856 hectares, uma produção de 342 toneladas e um faturamento de R$ 1,108 milhão; Batalha teve uma área plantada de 1.148 hectares, uma produção de 329 toneladas e um faturamento de R$ 1,053 milhão; Monsenhor Hipólito teve uma área plantada de 1.870 hectares, uma produção de 280 hectares e um faturamento de R$ 959 mil; Francisco Santos teve uma área plantada de 1.763 hectares, uma produção de 300 toneladas e um faturamento de R$ 945 mil, e Campo Grande do Piauí teve uma área plantada de 1.587 hectares, uma produção de 238 toneladas e um faturamento de R$ 833 mil.

Paulo Gustavo de Alencar afirma que, de acordo com os dados da Produção Agrícola Municipal de 2016 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), esses municípios são os maiores produtores de caju e castanha.

“O município de Pio IX continua sendo o principal produtor de castanha do Estado, além de ter a maior área colhida e maior valor da produção, mas na região se concentram diversas agroindústrias de extração de suco, produção de cajuína e processamento da castanha, cooperativas de produtores e a Central de Cooperativas dos Cajucultores do Estado do Piauí (COCAJUPI), que se articula com diversas cooperativas da cajucultura”, falou Paulo Gustavo.

Piauí está entre os três maiores produtores de caju

O pesquisador Paulo Gustavo de Alencar aponta que, no Brasil, a área plantada concentra-se basicamente no Nordeste, onde a cultura ocupa uma área de 710 mil hectares, que representa 99,5 % da área plantada total, e onde chega a movimentar anualmente mais de 200 milhões de dólares, segundo dados do Censo Agropecuário 2006.

Ele falou que o semiárido concentrava, em 2006, um percentual de 63,75% dos estabelecimentos vinculados com o plantio do cajueiro e 61,45% da área plantada do Brasil. Os principais estados produtores, desde a década de 1970, são o Ceará, o Piauí e o Rio Grande do Norte.

Nas regiões produtoras do Nordeste são conhecidos dois tipos distintos de cajueiro: o cajueiro comum, utilizado nos plantios da fase inicial de expansão da cajucultura; e o cajueiro anão-precoce, obtido a partir de melhoramento genético. Muito embora existam diferenças em algumas características, como o porte das plantas, o tamanho e a coloração dos frutos, o período de florescimento e frutificação, entre outras, os dois tipos pertencem à mesma espécie Anacardium occidentale.

A vida útil da planta do cajueiro comum é de aproximadamente 35 anos e a sua produção inicia-se no terceiro ano, com um ciclo anual de cinco meses. Entretanto, a estabilidade da produção se dá apenas no décimo segundo ano. O peso da castanha varia de 3 a 33 g e o do pedúnculo de 20 a 500 g, com uma capacidade produtiva individual de pedúnculo e castanha (rendimento por planta) superior ao cajueiro anão-precoce.

O pesquisador ressalta que o cooperativismo como estratégia de desenvolvimento da cajucultura na microrregião de Picos foi importante para recuperação da cajucultura com foco no beneficiamento de castanha via criação da COCAJUPI.

Segundo a pesquisa de Paulo Gustavo, no período de 1960 a 1969, a produção aumentou em todos os Estados do Nordeste, mas os principais produtores eram o Ceará, com 54% da produção nordestina, seguido de Pernambuco, com 28%, e Rio Grande do Norte, com 5%.

Os primeiros projetos de plantios organizados de cajueiro aprovados pela Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) para o Piauí, antes de 1972, foram o Cajunorte, com área de 22 mil hectares, no município de Canto do Buriti, e o Cajupi, com área de 1,4 mil hectares, situado nos municípios de Valença e Pimenteiras. Este segundo, cancelado em função do vencimento dos prazos.

Cajucultura foi fomentada com subsídios

O pesquisador Paulo Gustavo de Alencar, em sua dissertação de Mestrado “Cajucultura no Semiárido Piauiense: Sistemas Agrários e Dinâmica Espacial”, apresentado para obtenção do título de mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente no Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente, da Universidade Federal do Piauí (Ufpi), mostra que a expansão da cajucultura para o Semiárido piauiense foi fomentada com subsídios para as empresas e estímulo dos pequenos produtores pela rede de assistência técnica e oferta de crédito.

Segundo Paulo Gustavo de Alencar, a expansão dos pequenos e médios plantios ocorreu pela expectativa de geração de renda e foi potencializada pela instalação de agroindústrias de processamento do pedúnculo. Ele concluiu em sua pesquisa que os produtos agroindustrializados são pouco diversificados e o mercado das matérias-primas continua controlado pelos atravessadores.

“A concentração fundiária e a pulverização das terras dos agricultores familiares dificultam o desenvolvimento sustentável da região. A dinâmica da atividade caracteriza-se pelo impacto inicial das áreas extensivas sobre a Caatinga, seguido de sua redução e expansão da cajucultura familiar, a substituição do cajueiro comum pelo anão-precoce, a disseminação do uso de agrotóxicos e a mecanização excessiva. O desenvolvimento da cajucultura dentro da perspectiva de desenvolvimento sustentável exige a reestruturação fundiária, a adoção de medidas para o fortalecimento da agricultura familiar, a disseminação das pesquisas científicas consolidadas, a adequação das estratégias de concessão de crédito ao planejamento de desenvolvimento da cajucultura regional, a disponibilização de assessoria para os processos de gestão e produção orgânica e a adoção de sistemas produtivos mais diversificados e estáveis”, afirma Paulo Gustavo.

Ele fala que a cajucultura é uma das principais atividades econômicas para o Estado do Piauí, pela geração de trabalho, renda e divisas em situações adversas. O cajueiro é uma planta adaptada ao semiárido. Paulo Gustavo afirma que cajucultura tem passado por crises, mas a redução da área colhida no Piauí tem sido atribuída ao longo período de estiagem. Para ele, as ações institucionais para o desenvolvimento da cajucultura têm sido pontuais e desarticuladas, e as pesquisas, geralmente, desconsideram o contexto socioeconômico e ambiental da região produtora.

Oligarquias sertanejas e a estagnação do semiárido

Paulo Gustavo diz que o semiárido brasileiro tem sido uma região caracterizada, na sua maior parte, pela estagnação e lentidão do crescimento econômico e pela existência de indicadores sociais abaixo das médias nacional e regional e esses baixos indicadores estão vinculados às questões estruturais, como o controle político do Estado pelas oligarquias sertanejas. Segundo o pesquisador, elas moldam as estratégias de desenvolvimento equivocadas, o controle das ações estatais, a elevada concentração fundiária, onde as secas são um ingrediente a mais para seu agravamento.

O semiárido brasileiro abrange 1.262 municípios e ocupa uma área de 1.142.193,50 km², ocupando mais de 90% da região Nordeste, além de parte do Estado de Minas Gerais, com uma população de 27,8 milhões de pessoas, conforme estimativa para o ano de 2017. No Piauí, o semiárido abrange 185 municípios com uma superfície de 202.915,87 quilômetros quadrados, o que corresponde a 79,6% da área do Estado e uma população aproximada de 2,8 milhões de habitantes.

O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e o Produto Interno Bruto (PIB) per capita do Semiárido é inferior à média da região Nordeste e da média nacional. Paulo Gustavo de Alencar ensina que no Semiárido predominam temperaturas médias anuais muito elevadas e constantes, baixos níveis de umidade em períodos prolongados, escassez de chuvas anuais, irregularidade no ritmo das precipitações ao longo dos anos; solos problemáticos, tanto do ponto de vista físico quanto do geoquímico (solos parcialmente salinos, solos carbonáticos) e ausência de rios perenes.

As precipitações no semiárido variam em média de 300 a 800 mm e que chove relativamente bem, mesmo quando comparada com as regiões temperadas. Seu estudo mostra que a chave para a problemática das secas está relacionada com a alta variabilidade interanual e intra-anual combinada com as altas taxas de evapotranspiração que tornam o balanço hídricoanual negativo a maior parte do ano.

“A vegetação de Caatinga é um dos fatores mais marcantes da paisagem do semiárido, e trata-se de uma fitofisionomia com alta biodiversidade, onde se destaca a formação vegetal xerófila, com folhas pequenas ou modificadas para reduzir a transpiração, caules suculentos para armazenar água e raízes espalhadas para aumentar a eficiência de captação de água pelas plantas, que se transformam repentinamente nas mudanças das estações secas e chuvosas”, disse.

“A vegetação é composta por arbustos e arvoredos, abrigando espécies com grande valor científico, dada a sua rusticidade, resistência e adaptação ao clima da região. A Caatinga é dominada por tipos vegetais sobre estresse ambiental ocasionado pela deficiência de água, excesso de luminosidade e temperatura, com estratos compostos por gramíneas, arbustos e árvores de porte baixo, de folhas pequenas, caducifólia, com grande quantidade de plantas espinhosas, entremeadas de espécies de cactáceas e bromeliáceas”, completou Paulo Gustavo.

Meio Norte