Incentivados pela boa colocação nas pesquisas do deputado federal Jair Bolsonaro (PSL-RJ), pré-candidato à Presidência da República, pelo menos 71 oficiais da reserva e da ativa querem postular um cargo eletivo nos 26 estados e no Distrito Federal neste ano. O número ainda é inferior às 127 candidaturas registradas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em 2014. A diferença está no grau de relevância dos cargos almejados.
Dos militares que concorreram há quatro anos, 26 tentaram uma vaga na Câmara dos Deputados, um tentou o Senado Federal, e um formou chapa como vice-governador, ou seja, 20% dos candidatos tentaram um cargo de alto escalão. Em 2018, das 71 pré-candidaturas, 42 pleiteiam um posto de mais prestígio nas esferas estadual, para governador (5), e federal, entre deputados (34) e senadores (3). Logo, 59% dos candidatos nestas eleições pretendem postular cargos eletivos mais ambiciosos. O percentual elevado de militares que almejam voos mais altos na política é um fenômeno inédito desde a redemocratização.
É comum profissionais ligados à área de segurança pública participarem das eleições, como policiais militares, civis e federais, delegados civis e federais, bombeiros e guardas municipais, mas não militares. A Câmara dos Deputados conta com 22 parlamentares com origem profissional em alguma dessas categorias. A quantidade de militares no Congresso, no entanto, é pequena. Apenas dois deputados têm origem na carreira militar: o próprio Bolsonaro e Tenente Lúcio (PR-MG), ambos da reserva do Exército. Ou seja, a depender do sucesso dos militares que disputarão o cargo de deputado federal, o quadro de ex-oficiais das Forças Armadas pode aumentar consideravelmente no Congresso Nacional.
A esperança dos oficiais de vencerem as eleições está ancorada na ideia de se posicionarem como candidatos que vão combater a violência e a corrupção. A percepção de insatisfação popular com os sucessivos escândalos na vida pública, além do aumento do conservadorismo e da presença dos militares na intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro serviram como combustível para impulsionar o desejo dos membros das Forças Armadas de se aventurar na política.
O sucesso dos candidatos militares nas eleições não é uma situação improvável. Para o diretor do Instituto de Ciências Políticas da Universidade de Brasília (UnB), Paulo Calmon, eles têm possibilidades como quaisquer outros candidatos. “Há viabilidade, mas depende das circunstâncias, da personalidade, do carisma, da competência, da história de vida de cada um. Mas eu trataria a pré-candidatura de um militar de forma semelhante à de qualquer uma vinda do setor público ou federal de maneira geral”, pondera.
Entre os postulantes, a maioria não tem carreira ou experiência política. As poucas exceções, além de Bolsonaro e de Tenente Lúcio, são: o capitão Éverton Araújo, pré-candidato a deputado federal pelo PRP do Piauí, que já foi vereador do município de Simplício Mendes; o general de brigada Girão Monteiro, que visa à Câmara dos Deputados ou o governo do Rio Grande do Norte, e foi secretário de Segurança do estado em 2014; e o general Sérgio Roberto Peternelli, pré-candidato a deputado federal pelo PSL de São Paulo, que foi secretário-executivo do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República, e indicado para presidir a Fundação Nacional do Índio (Funai).
A inexperiência na vida política, entretanto, não é avaliada por Calmon como um ponto negativo. Ele ressalta que todo político inicia o mandato em condições semelhantes. “Muitos começaram sem qualquer experiência. Militares, por seu próprio treinamento e função, possuem determinadas habilidades que podem, eventualmente, ser muito úteis em uma campanha política e no exercício do mandato”, avalia.
MOTIVAÇÃO
O “efeito Bolsonaro” é notório no estímulo a candidatos originários do meio militar. A força eleitoral do presidenciável motiva direta ou indiretamente a maioria deles. Entre os pré-candidatos, pelo menos 26 são do PSL, partido do deputado federal. Outros ainda estudam embarcar na sigla. Mesmo militares filiados a outros partidos nutrem apreço e não descartam a possibilidade de estreitar alianças políticas com Bolsonaro. É o caso do general Paulo Chagas (PRP), pré-candidato ao governo do Distrito Federal (GDF).
A proximidade com Bolsonaro não poderia ser diferente, pondera Chagas. “No momento em que os militares se colocam à disposição para incursionar nessa área (política), é natural que se aproximem daquele que já está lá e tem a experiência, o conhecimento, para que mostre o norte”, avaliou.
O PRP está negociando apoio com o PSL no DF para garantir palanque a Bolsonaro e impulsionar a candidatura de Chagas. Para o pré-candidato distrital, ter o presidenciável no apoio seria algo positivo. “É muito importante, pois mostra que temos identidades de propósitos”, pondera. Para Chagas, além disso, a candidatura ao GDF pode ser reforçada pelos valores conservadores de que ambos compartilham.
Além de convicções ideológicas em comum, Bolsonaro lidera as intenções de votos na capital federal. “Ele é o candidato com as melhores perspectivas. A probabilidade de o eleitor que vota nele também votar em mim é grande. Acho excelente que ele me apoie”, diz Chagas.
CLÁUSULA DE BARREIRA
O PSL tem muitas expectativas de sucesso com os militares candidatos. Afinal, o partido precisa obter 1,5% dos votos válidos em pelo menos nove estados para não sofrer as sanções previstas pela cláusula de barreira. Sem isso, não conseguirá acesso ao Fundo Partidário em 2019 e terá de lutar para sobreviver. Em um caso extremo, a falta de recursos poderia levar a legenda à extinção. Das 34 pré-candidaturas a deputado federal ligadas à sigla, 16 são de militares em 13 estados. Por isso, uma vitória dos oficiais será importante para as aspirações do partido e para a própria candidatura de Jair Bolsonaro.
Correio Brasiliense