Diante do número de policiais militares que foram reprovados nos testes psicológicos, mas permaneceram qualificados ao cargo militar após autorização judicial, a Associação Beneficente dos Cabos e Soldados do Piauí (Abecs) questiona o processo de seleção e formação destes profissionais. A polêmica se reacende a cada novo envolvimento destes PMs em crimes, sobretudo de homicídio, como na abordagem desastrosa que resultou na morte de Emilly Caetano, uma criança de apenas 9 anos.
“Não se forma um policial militar em apenas seis meses para ir às ruas cuidar da segurança pública da sociedade e somos críticos ferozes desse processo seletivo”, defende o assessor jurídico da Abecs, Marcos Vinicius Brito Araújo. Ele afirma que a Associação é favorável a uma pesquisa mais profunda e completa sobre essa seleção de pessoas para ingresso na corporação militar e é contrária a decisões do judiciário que permitem candidatos reprovados em psicotécnico à aprovação para o exercício militar.
Segundo o advogado, o policial militar é muito mal treinado em seis meses e, para piorar mais essa situação, desses seis meses, três deles não são presenciais, prejudicando o treinamento, a formação do policial. “Durante o processo de formação, o policial só chega a dar apenas 20 disparos no manuseio com arma, enquanto um guarda municipal, que cuida de segurança de patrimônio público, chega a dar 100 disparos em treinamento”, compara o assessor jurídico, acrescentando que o aperfeiçoamento vem com o treinamento cotidiano do policial, o que não acontece dentro da corporação.
No tocante à reprovação do candidato a policial em psicotécnico e ao ingresso na corporação com decisão judicial, o advogado Marcos Vinicius afirma que a Associação defende que antes de um juiz julgar a favor ou contra, deveria ouvir uma junta de três profissionais da área de Psicologia para depois decidir sobre as condições psicológica da pessoa em assumir uma função policial. “Aliás, juiz é formado em Ciências Jurídicas e como pode decidir por um profissional de Psicologia? Mas não é apenas isso, hoje o policial é muito mal pago e mal treinado. Enquanto um oficial passa quatro anos na academia, o policial só passa seis meses”, critica, acrescentando que esse processo precisa ser revisto.
Números
De acordo com o Núcleo de Concursos e Promoções de Eventos (Nucepe), responsável pela realização do concurso público mais recente para policiais militares do Piauí, 24 candidatos foram reprovados nos testes psicológicos, mas permaneceram qualificados ao cargo militar após autorização judicial. Segundo o Nucepe, muitos conseguem chegar ao curso de formação sem aprovação em várias etapas do processo seletivo, apenas com mandatos judiciais.
Portal O Dia