O exame de estereotaxia (biópsia mamária) serve para localizar nódulos não-palpáveis ou micro-calcificações nas mamas, assim, é possível obter uma amostra de tecido das áreas com alterações vistas pela mamografia, para estudo e verificação do diagnóstico. Este é um procedimento importante para confirmação de um possível câncer de mama, mas que esbarra na quantidade limitada de aparelhos disponíveis no Piauí.
No Estado, há apenas dois aparelhos que realizam esse procedimento, um no Hospital São Marcos e outro no Hospital Universitário da Universidade Federal do Piauí, sendo este o único a oferecer agendamento de biópsia de mana pelo Sistema Único de Saúde (SUS). No HU, são realizadas 24 biópsias de mama mensalmente, o que representa 0,8 atendimentos por dia.
A demora na realização do exame é um dos principais fatores de atraso do início do tratamento contra o câncer de mama. É o que destaca a mastologista Patrícia Alexsandra Rodrigues. Ela conta que os hospitais da rede estadual e municipal não possuem este aparelho e, quando há necessidade de uma biópsia, é preciso recorrer a essas duas instituições.
“No Hospital Getúlio Vargas (HGV), é possível realizar tumores palpáveis, ou seja, que é possível fazer o toque, pois temos materiais. Mas as lesões impalpáveis, aquelas vistas através de mamografia ou ultrassom, é preciso fazer a biópsia estereotáxica guiada; então, nesses casos, temos que lançar mão dos outros dois serviços. Cada vez que eu tenho que encaminhar essa paciente para outro lugar, aumenta a demora, levando dois ou três meses até o diagnóstico estar fechado e começar o tratamento”, explica.
Patrícia Alexsandra Rodrigues salienta que o serviço de mastologia oferecido pelo Estado, através do HGV e Hospital Lineu Araújo, conta com aproximadamente 12 profissionais, o que garante um atendimento completo aos pacientes, em nível de SUS. Apesar da quantidade de médicos, a demora no tratamento esbarra na burocracia em dar o diagnóstico definitivo ao paciente.
“Existe uma burocracia entre detectar uma lesão suspeita na mamografia ou ultrassom, chegar com o resultado da biópsia até começar efetivamente o tratamento. Tudo tem que ser autorizado pelo SUS, voltar para regulação e determinar se a lesão realmente é um câncer. Mas quando o diagnóstico é dado, e como há muitos serviços, é mais rápido conseguir operar. O SUS só autoriza o tratamento quando tem o resultado da biópsia em mãos, o que acaba engessando um pouco”, acrescenta a mastologista.
As mamografias podem ser feitas pelo SUS através de encaminhamento do médico especialista. Após o resultado, a paciente deve retornar ao consultório, apresentar o exame e seguir os próximos procedimentos orientados pelo profissional.
Piauí possui 30 mamógrafos
No Piauí, existem 30 equipamentos de mamógrafos, distribuídos nos municípios de Teresina, Parnaíba, Piripiri, Campo Maior, Picos, Paulistana, Oeiras, São Raimundo Nonato e Floriano. Em 2016, foram realizados 30.196 exames e, em 2017 (de janeiro a junho), 9.743 mamografias.
Para ter acesso ao serviço, a paciente deve procurar o programa Estratégia Saúde da Família, onde será encaminhada ao Sistema de Regulação do Estado. A mastologista Patrícia Alexsandra Rodrigues explica que o atendimento em outros municípios, muitas vezes, é aquém do esperado devido alguns problemas, como o acesso aos postos de atendimento.
“Na região Norte, como em Parnaíba, e no Sul, como em Picos, por exemplo, existem mamógrafos, mas muitas vezes esses polos não abrangem toda a área que lhes competem. A procura é maior mesmo em Teresina, por isso que na Capital é mais fácil solicitar o exame, e mais difícil no interior do Estado, por conta da distância, já que nem todo lugar possui ou tem a facilidade do acesso”, pontua a especialista.
Aumento de casos reflete diagnóstico precoce
Dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca) apontam que, no mundo, surgem 1,7 milhão de novos casos de câncer de mama a cada ano. No Brasil, são 60 mil e, no Piauí, 600 novos casos. Porém, a mastologista Patrícia Alexsandra Rodrigues enfatiza que a busca das pacientes por prevenção tem crescido, fazendo exames regularmente, e isso tem favorecido o diagnóstico precoce.
“É possível identificar lesões muito pequenas, de milímetros, então o diagnóstico precoce dá a falsa sensação de que o número de casos está aumentando, mas está aumentando é o número de detecção precoce. Quanto mais precoce, mais chance de cura, então menos óbitos por câncer de mama ocorrerão. Antigamente, o número de óbito era alto porque as pacientes já chegavam com casos avançados, com metástases, e isso não dava muitas opções terapêuticas”, disse.
A especialista acrescenta também que o número de casos de câncer de mama no Piauí, assim como no restante do País, vem aumentando por conta do diagnóstico precoce, mas não é considerado um dos mais altos, mantendo a taxa de casos esperados anualmente. Contudo, ela ainda alerta para os casos de diagnósticos avançados.
“No entanto, ainda vemos muitas mulheres chegando com tumores avançados, ou seja, que não tiveram esse cuidado de investir na prevenção e chegam com lesões que deveriam ter sido diagnosticadas há bastante tempo, evitando assim um tratamento mais agressivo”, fala Patrícia Alexsandra Rodrigues
Portal O Dia