Pesquisas recentes sugerem cada vez mais a cannabis como um valioso auxiliar no tratamento de uma série de aplicações clínicas, incluindo alívio de dores, náuseas, espacidade e outros distúrbios.

O neurocientista John Fontenele Araújo, médico formado pela Universidade Federal do Piauí (UFPI), e que atualmente leciona na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), explica que é chamado de Cannabis Medicinal todo subproduto derivado da planta Cannabis sativa, também conhecida como maconha, utilizada para tratamento de várias enfermidades.

De acordo com ele, em João Pessoa (PB), a Justiça deu uma liminar permitindo a legalização de uma cooperativa de familiares de pacientes que têm prescrição médica do uso de cannabis medicinal para plantarem maconha e produzirem o óleo, neste caso, com assessoria da Universidade Federal. Mas ele afirma que isso foi conseguido por liminar, ou seja, não existe segurança jurídica para o que está acontecendo, mas de acordo com o professor, a Anvisa prometeu lançar novas normas para permitir que o mesmo que está acontecendo na Paraíba aconteça em outros locais.

Foto: Reprodução/Meio Norte

“Esperamos que isto ocorra no Piauí, vários pesquisadores, sob a coordenação da UESPI, estão trabalhando para que a UFPI produza a planta, retire o extrato e a UESPI faça o controle de qualidade e os profissionais médicos o controle clínico. Isto ajudará muitos pacientes. O governador do Estado do Piauí prometeu ajudar, inclusive com financiamento, porém até o momento nada foi adiante”, adianta.

O neurocientista conta que após a divulgação dos vídeos ILEGAL e NA LUTA, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) anunciou que permitiria a importação da planta quando tivesse uma prescrição médica.

Em um dos vídeos, uma mãe relata os benefícios do uso do canabinol no controle das crises convulsivas de sua filha, que tem síndrome de Dravet. Mas ela traz o óleo dos Estados Unidos de forma ilegal, pois, até então, no Brasil não é autorizado o uso da maconha.

Outro vídeo relata o caso de uma família de Brasília (DF) e a dificuldade de conseguir a autorização, que é dada somente após 45 dias, tarde demais para continuar o tratamento da criança, que morreu antes dos pais poderem importar o medicamento.

“Os dois vídeos são muito fortes, há muita emoção e apelos foram feitos para convencer as autoridades para permitirem o uso da cannabis medicinal. A Anvisa, hoje, autoriza a importação, porém este processo é muito burocrático e caro, um tratamento fica em média por R$ 3 mil”, acrescenta o pesquisador.

Segundo o neurocientista, a plantação da cannabis é fácil e a extração dos canabinoides também. Uma produção local (semiartesanal) custa em torno de R$ 100,00 mensais um tratamento. Algumas famílias conseguiram liminares para plantar a maconha e produzir o óleo com os canabinoides.

Uso medicinal reduz casos de convulsões

Ainda no final do século XX, pesquisadores descobriram quais tipos de substâncias a Cannabis contém e que efeitos promovem no cérebro. O neurocientista John Fontenele Araújo afirma que o principal benefício da maconha, como uso medicinal, é o alívio de sintomas de diversas doenças que deixam os pacientes incapacitantes, por exemplo, reduzindo convulsões em crianças com Síndrome de Dravet (epilepsia refratária), que em alguns casos a criança tem mais de 5 crises por dia e o uso da cannabis chega a zerar o número de casos.

O médico explica que existem várias formas de se usar os canabinoides. “Eles são substâncias lipossolúveis (que dissolvem na gordura) e por isso são facilmente absorvidas. Podemos usar em forma de chá, em forma de óleo, em forma de spray ou vapor e até fumado”, afirma.

O especialista alerta, contudo, que é importante que fique claro para a população que embora o uso na forma de cigarro seja o mais utilizado por aqueles que usam cannabis como meio recreativo nos países em que a prática é legalizada, no caso da cannabis medicinal esta não é a modalidade mais utilizada e nem recomendada.

“O uso dos fitocanabinoides é seguro. Todavia, em decorrência da proibição, poucas pesquisas foram realizadas em algumas condições especiais. Por isso, por uma questão de segurança devemos evitar o uso recreativo de cannabis durante a adolescência e na gravidez”, orienta.

Segundo John Fontenele Araújo, embora a potência seja baixa, a cannabis causa dependência, por isso o seu uso deve sempre ser acompanhado por um profissional da área de saúde.

A cannabis tem um real potencial medicinal já reconhecido, dessa forma o neurocientista lamenta a demora dessa descoberta por causa da proibição do seu uso no Brasil. “É urgente que a descriminalização da maconha seja feita para que nós, cientistas, médicos, gestores e familiares tenhamos uma seguridade jurídica que nos permita tratar doentes e investigar mais o potencial medicinal da cannabis”, analisa. (W.B.)

Cannabis inibe as sinapses

Eles descobriram que as substâncias eram o THC e o canabinol. Posteriormente foram descobertas outras, e por serem produzidos por uma planta são chamados de fitocanabinoides (fito de planta, ou seja, canabinoides produzidos por uma planta).

Os pesquisadores descobriram que os receptores para os endocabinoides estão principalmente localizados no cérebro em regiões relacionadas à função cognitiva e motora. “A função dos endocabinoides é promover uma regulação das sinapses. Quando um neurônio, chamado de neurônio pré-sináptico, está muito ativo e libera muitos neurotransmissores que ativam fortemente um neurônio pós-sináptico, este último produz endocanabinoides que retroativamente inibem o neurônio pré-sináptico”, esclarece.

Assim, os fitocanabinoides atuam inibindo algumas sinapses. Desta forma, a Cannabis pode ser usada em uma condição em que seja necessária promover a inibição de algumas sinapses. Também foram encontrados os receptores para canabinoides no intestino. Isto tudo em conjunto explicaria os efeitos da cannabis no ser humano. (W.B.)

Meio Norte