As fake news seguem atrapalhando as campanha de vacinação. O alerta é do Conselho de Secretarias Municipais de Saúde (Cosems), que reuniu em Teresina nesta quarta-feira (17) gestores dos 224 municípios do Piauí para discutir, entre outros temas, ações para melhorar os indicadores vacinais e os impactos que as informações falsas que circulam nas redes causam na procura pelas unidades de saúde.
A baixa vacinação acontece não apenas para doenças como Covid-19 e Gripe, mas também para doenças que já tinham sido erradicadas, como a poliomielite. Segundo o Ministério da Saúde, no ano passado, a cobertura vacinal para a poliomielite no Brasil ficou em 77,16%, muito abaixo da taxa de 95% recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para impedir a circulação do vírus. No Piauí, o percentual de pessoas vacinadas ficou em torno de 86%.
A vice-presidente do Cosems, Leopoldina Cipriano, afirmou que as fake news sobre a vacinação estão fazendo com que as pessoas fiquem com medo de se vacinar, o que pode fazer com que doenças erradicadas voltem a circular pelo país.
“Nós temos muitas fake news de sintomas que não existem. Hoje em dia as pessoas não conseguem mais ver as doenças que foram erradicadas no país em virtude da vacinação, então elas não reconhecem mais a importância da vacinação. Temos várias doenças erradicadas, mas as pessoas não entendem que isso ocorreu por causa da vacinação. Foram muitas fake news e um governo que desacreditava a vacina. Há 10 anos as pessoas não perguntavam quem era o fabricante, os sintomas, porque reconhecia a importância da vacina. Hoje em dia as pessoas pararam de acreditar na vacinação. Hoje temos dificuldade de garantir que a população tome vacina básica de poliomelite e BCG, porque a população não reconhece mais a importância”, afirmou.
O secretário de Saúde de Paquetá, Marcos Valério, afirmou que a vacinação tem sido uma problemática que os municípios estão tendo que enfrentar desde a pandemia da Covid-19
” a Covid-19 afastou um pouco os usuários das unidades básicas de saúde, com isso a gente vem implementando várias medidas. Hoje enfrentamos essa aceitação da vacina. Somos espelho para vários outros países, mas no pós-pandemia houve essa recusa por parte da população, e não é uma realidade só de Paquetá, mas de vários outros municípios”, destacou..
Recursos
Durante o encontro, os gestores também discutem os desafios do SUS e as dificuldades para custear os serviços à população com recursos próprios.
“Estamos discutindo os desafios do SUS nos próximos anos no Piauí e no Brasil. Os desafios são a assistência farmacêutica, garantia de medicamentos, a saúde digital com os problemas de informatização da saúde, os problemas das vacinas com a pouca adesão da população de rotina. O Brasil até alguns anos atrás era um dos países que mais imunizava no mundo, mas nós últimos anos tem ocorrido a redução na busca das pessoas por vacinação, temos ainda a questão do financiamento. Então nosso intuito é discutir e buscar a solução”, afirmou Leopoldina Cipriano, vice-presidente do Cosems.
Leopoldina, que é secretária de Saúde da cidade de Miguel Alves, disse que o valor que o governo federal e o estado repassam para manter os serviços do SUS são insuficientes e não atendem a demanda.
Ela disse que são várias as áreas da saúde prejudicadas por causa desse baixo repasse nos recursos.
“A última vez que o Ministério da Saúde aumentou o recurso com a saúde bucal foi em 2017, onde repassa R$ 2.400, mas com esse valor eu não pago nem o salário do dentista. Tem ainda o técnico, o material, insumo, energia, tenho que informatizar, então é menos de 20% do que é gasto com saúde bucal. Isso é em todas as áreas. Com saúde mental eu recebo R$ 28 mil, e só com medicamento eu gasto R$ 39 mil. Minha folha de pagamento é de R$ 40 mil, então gasto em média R$ 78 mil com o CAPs e o governo federal me repassa só R$ 28 mil”, criticou.
A situação também é relatada pelos demais secretários municipais. O secretário de Socorro do Piauí, Ticiano Coelho, afirmou que o SUS não tem funcionado como deveria e que isso está prejudicando a situação financeira dos municípios.
“Hoje no nosso município a maior dificuldade é o funcionamento do SUS na maneira que era para ser feita, na questão financeira. Temos dificuldades com recursos da educação básica que está congelada há mais de 18 anos. A saúde vem sendo subfinanciada há muito tempo com o congelamento desses repasses, e a cada ano tem a inflação dos materiais de consumo e custeio e por isso vem passando por dificuldade. Hoje temos recursos próprios para pagar na questão de 25%. Temos 15% do repasse da prefeitura, que é o mínimo estabelecido por lei, e gastamos mais 10%”, destacou.
Fonte: Cidade Verde