As facções criminosas parecem ter realmente se instalado em quase todo o Brasil. E pelo visto têm saído e se organizado dentro do sistema prisional.

E o Piauí já entrou na rota de algumas destas facções. A existência delas se reflete no aumento de crimes de homicídios, tráfico de drogas e assaltos por todo o estado, especialmente Teresina.

Um levantamento feito pelo Departamento Penitenciário Nacional (Depen) afirma não ter dados oficiais e recentes sobre as facções criminosas no Brasil, mas aponta a existência de quase uma centena em todo o país.

Facções como ‘Bonde dos 40’ já possuem ramificações no estado. Há pelo menos três anos. E os integrantes -ou quem sabe postulantes a membros- tentam tornar isso cada vez mais público. É comum ver pichações por patrimônios da cidade com “B 40”.

Facções picham muros de patrimônios públicos em vários bairros de Teresina (Foto:Ellyo Teixeira / OitoMeia)

A reportagem do OitoMeia fez um breve levantamento com base nos relatórios de comissões parlamentares de inquérito (CPIs) e em mapeamentos mais recentes divulgados por estudiosos do tema, com base em cruzamentos de dados dos serviços de inteligência da Polícia Federal e secretarias de segurança pública estaduais.

De acordo com esses dados, há pelo menos 83 organizações de presos no Brasil, a maioria com atuações por estado. E no Piauí, ainda de acordo com esses números, possui pelo menos quatro locais com facções (seja local ou ramificações de outras), com atuação de mais duas chegadas dos estados de São Paulo e do Rio de Janeiro.

Entre as facções que atuam no Piauí seriam o grupo criminoso paulista ‘Primeiro Comando da Capital – PCC’ (PCC e denominada também de 1533, numero de cada letra no alfabeto); a fação carioca ‘Comando Vermelho’ (CV); o Bonde dos 40 (que tem suas origens no Maranhão), Primeiro Comando de Campo Maior (PCM), Primeiro Comando de Esperantina (PCE) e Facção Criminosa de Teresina.

Demarcação de territórios por facções (Foto:Ellyo Teixeira/OitoMeia)

Segundo investigações da Polícia Civil, a maioria dos crimes cometidos hoje na capital têm membros destas facções como autores. As investigações apontaram que uma das características destes grupos organizados de criminosos são as execuções, muitas vezes de forma violenta (cabeças decepadas, por exemplo). Também costumam executar disparando dezenas de tiros na vítima, como forma de mostrar poder aos rivais. Outra circunstancia apurada tem a ver com a ligação desses criminosos com o tráfico de entorpecentes. Eles se utilizam da facção criminosa para ter apoio, muitas vezes operacional, não só no cometimento deste crime, mas também de vários outros, como homicídio e roubos.

Esses grupos criminosos costumam ter membros que fazem pichações como uma forma de demarcação de territórios. “Passa nada, tudo nosso”, “Proibido roubar na quebrada”, são algumas das frases usadas por esses criminosos. É “proibido” que certos crimes como furtos e assaltos ocorram em bairros dominados por eles para não chamar a atenção da polícia e ter, de uma certa forma, apoio dos moradores vizinhos.

Uma fonte que não terá seu nome revelado relatou ao OitoMeia como é morar em um bairro tendo a presença de membros de facções como aquelas citadas. Com medo de represália, a pessoa que pediu para na ser identificado disse que todos os dias , por volta das 22h tem um toque de recolher quase que natural. Quem passa altas horas da noite tem a obrigação de baixar os vidros do carro e reduzir a velocidade.

“Todos os dias a gente vê criminosos armados, usando e vendendo drogas nas esquinas. Na minha casa eles picharam o muro com a sigla de uma facção e diziam que é proibido roubar lá. Mas sabemos que eles roubam em outros lugares e retornam para dentro do bairro. Durante a noite eu evito chegar depois de 20h porque é complicado. Quando trabalho até mais tarde e vou pegar um carro de aplicativo os motoristas não querem entrar no bairro. Quem passa pela rua depois das 22h tem que andar com os vidros abaixados porque se descumprir, eles atiram”, informou essa fonte. 

Vários crimes que têm assustado a população no Piauí estariam associados a essas quadrilhas ou pessoas ligadas a estas facções. Não há, entretanto, confirmação por parte da Secretaria Estadual de Segurança Pública. Os recentes casos assustaram a população. Um exemplo foi o assalto ocorrido no último dia 11 de dezembro em uma agência da Caixa Econômica Federal da avenida Joaquim Nelson, bairro Dirceu. Dezenas de criminosos entraram no banco a pé, plena luz do dia, em um dos locais mais movimentados da capital e efetuaram disparos para o alto. O bando quebrou a vidraça e pelo menos cinco criminosos foram direto para os caixas de onde conseguiram recolher valores que não foram divulgados.

Somente neste semestre foram registrados oito assaltos a bancos, incluindo o sequestro do gerente do bando Itaú e toda a sua família, em Teresina. As vítimas ficaram sob cárcere por uma noite e foram liberadas depois que o gerente pegou dinheiro da agência e repassou aos criminosos. Outro crime que só tem aumentado é o de homicídios. Foram pelo menos 20 assassinatos, sendo 13 deles somente em Teresina neste ano.

O promotor de Justiça José William afirmou em entrevista ao OitoMeia que facções como ‘PCC’ e ‘Bonde dos 40’ usam o Piauí como uma “estrada” para o tráfico. Também utilizam o estado como rota aérea, principalmente o ‘PCC’.

“É um sistema que se retroalimenta e o Piauí tem oferecido muitos soldados para essas facções”, ressalta o representante do Ministério Público Estadual.

Secretário de segurança, coronel Rubens Pereira (Foto:Ricardo Morais/OitoMeia)

Em janeiro desse ano a Secretaria de Segurança realizou a “Operação Codinome” que culminou na prisão de 20 faccionados. Entre os presos, sete seriam considerados os “cabeças” das facções em Teresina. Por conta da periculosidade, o MP solicitou à justiça que eles fiquem isolados no sistema prisional sem contato físico.

“Foi a primeira vez no Piauí que o Ministério Público requisita à Justiça que presos fiquem em regime disciplinar diferenciado (RDD)”, afirma o promotor.

O secretário estadual se segurança, coronel Rubens Pereira reconhece a existência dessas facções no Piauí e afirmou que é uma realidade nacional cujo enfrentamento exige principalmente uma atuação federal, que vem sendo realizada pela Secretaria Nacional de Segurança Pública, com mecanismos de atuação integrada entre os entes federados.

“Essas facções estão espalhadas por todo o Brasil, uma realidade nacional cujo enfrentamento exige principalmente uma atuação federal, que vem sendo realizada principalmente pela Secretaria Nacional de Segurança Pública, com mecanismos de atuação integrada entre os entes federados. O Piauí não é uma ilha nesse contexto. De nossa parte, estamos monitorando essas facções com o serviço de inteligência, com apoio da Justiça Criminal. A situação é de intenso controle e monitoramento constante. Todos os casos estão sendo apurados com rigor”, disse Rubens.

Fonte: Oito Meia