Você anda na rua e vê um carro de som anunciando um candidato a vereador. Vai até à padaria, compra um pão e, de novo, encontra outro, desta vez propagando um postulante à prefeitura. Você pode não gostar da poluição sonora (nem eu, admito), mas existem pessoas questão comemorando. São aquelas que detêm empresas que possuem veículos munidos de… equipamentos de som.

A época de eleição é uma espécie de bilhete premiado para essas empresas. Elas chegam a faturar nos 40 dias de campanha o equivalente ao que fazem durante o ano todo (ou próximo disso). É o exemplo da empresa paulistana Mega Som, que possui 40 veículos, desde Kombis, automóvel clássico da Volkswagen, recheadas de caixa sonoras até caminhões utilizados para carreatas maiores.

De acordo com Priscila Cerqueira, sócia-proprietária da Mega Som, todos os veículos ficaram alugados durante o período. “Faz 20 dias que não temos nenhum carro disponível”, diz ela. A Mega Som cobra de R$ 700 a R$ 4 mil a diária, dependendo, é claro, do veículo (e da potência do som).

Durante o período eleitoral, segundo ela, a procura cresce muito. As opções, além da Kombi, vão de um Celta, da Chevrolet, até trios com apelidos de “trovão”, “terremoto”, “tufão” e chegam ao “trenzinho da alegria”.

O faturamento nesse período chega a R$ 350 mil. Se for contar apenas o dia a dia da empresa, sem contar datas festivas, como carnaval e afins, a receita anual chega a R$ 380 mil.

“É um mês abençoado”, diz Marco Antônio Bernardo, da AB Promoções, que também atua no segmento. Ele, que é o “marido da patroa”, a verdadeira dona do negócio, diz que se tivesse mais que os dez carros que possui em sua frota, todos estariam alugados.

“Se eu tivesse 30 carros, todos estariam na rua”, diz ele. “Nós já temos muitos clientes, mas todo mundo está ligando e não temos condições de atender a demanda.”

De acordo com ele, nesse período eleitoral, 70% dos negócios que ele fechou vieram da política. Para circular durante cinco horas tocando o jingle do candidato, a AB Promoções cobra R$ 350. Se for para pegar um trio, o valor pode dobrar.

Ano difícil, mas recuperação à vista

As receitas dessas empresas dependem muito da economia. Boa parte dos negócios vêm de publicidade regional. Ou seja, inaugurações de supermercados, lojas e afins. E a pandemia não fez nada bem para os negócios.

Segundo Bernardo, somente agora que os aluguéis estão retomando. “Nós costumamos fazer muitas inaugurações e depois que passou a quarentena estamos voltando”, diz ele.

Outro fator, no entanto, ajuda as empresas durante esse período. Como, normalmente, os candidatos a cargos eletivos são pessoas notáveis ou que possuem negócios além da política, esse período ajuda a ser uma espécie de fidelização.

No caso da Mega Som, por exemplo, alguns dos políticos que a empresa atende já são clientes antigos. Seja um pastor que solicitou um serviço para eventos como a Marcha para Jesus, até mesmo um dono de um comércio que já utilizou a empresa para fazer propagandas de eleições. Ou até mesmo manifestações políticas.

“Sempre atendemos esses clientes, então é uma sequência desse trabalho”, diz Priscila. Ou seja, servir bem para servir sempre.

Mas dá resultado?

Afinal, se existe tantas pessoas que não aguenta um som alto tocando um jingle (muitas vezes ruim), esse tipo de divulgação de resultado? Na visão do marqueteiro político Paulo Vasconcellos, que, entre outros trabalhos, coordenoui as campanhas de Aécio Neves (PSDB-MG) e Henrique Meirelles (MDB-SP) para a presidência em 2014 e 2018, respectivamente, pode fazer a diferença.

“O fundamento é levar a informação e tornar a candidatura conhecida, então isto tem influência”, diz ele. “Na periferia, este “barulho” torna a candidatura mais presente e, portanto, mais relevante.”

Então, mesmo que você não goste do barulho causado pelas eleições, lembre que ela movimenta bastante dinheiro. Mas, também, pode ajudar a eleger o seu próximo prefeito ou vereador.

CNN