No ano de 2010 fomos impactados com o fascinante e perturbador livro de Nicholas Carr – cuja edição brasileira foi lançada em 2011, com o título “A Geração Superficial: o que a internet está fazendo com as nossas mentes.” O autor, com qualidade de pesquisa e valor literário, intensificou de maneira profunda constatações assombrosas acerca das influências negativas que a Internet exerce sobre os seus usuários.

O livro surgia como um grave sinal de alerta, justamente no momento em que a Internet estava no seu auge e aí despontavam, fogosas e cativantes, as diversas redes sociais, que passaram a dominar o tempo, e o entusiasmado interesse das pessoas, especialmente de crianças e adolescentes.

Em meio a esse entusiasmo, portanto, o livro surgia como uma ducha de água fria, chamando a atenção para os diversos perigos que o uso desenfreado dessas tecnologias já estava causando. Sem negar o benefício que a Internet trouxe à humanidade sob vários aspectos, a obra de Carr servia como um pé no freio nessa corrida massiva, incontida, à sua utilização.

Lembro aqui que li, há alguns anos, um bom artigo do pesquisador Valdemar W. Setzer, da USP, em que dava ênfase especial ao impacto em crianças e jovens, e trazia recomendações práticas aos usuários da Internet para contrabalançar, na medida do possível, os efeitos negativos apontados por Carr em seu livro.

O autor alertava: “parece que a Net está desbastando a minha capacidade de concentração e contemplação. Hoje, quer eu esteja on-line ou não, a minha mente espera receber informação do modo como a Net a distribui: um fluxo de partículas em movimento veloz. Antigamente eu era um mergulhador em um mar de palavras. Agora, deslizo sobre a superfície como um sujeito com um jet-ski.”

Pois bem, passados dez anos do impacto que Nicholas Carr nos causou com seu “Geração Superficial”, o neurocientista Michael Desmurget, diretor de pesquisa do Instituto Nacional de Saúde da França, acaba de lançar um sério e alarmante estudo, sob o título “A Fábrica de Cretinos Digitais”, com dados concretos e de forma conclusiva, sobre como os dispositivos digitais estão afetando seriamente – e para o mal – o desenvolvimento neural de crianças e jovens.

Meio Norte