O arquiteto e ativista Pedro Henrique de Cristo, 35, ganhou visibilidade no meio político ao liderar o Brasil 21, um movimento que prega oxigenação nos cargos eletivos, e concorreu a uma cadeira de senador por São Paulo nesta eleição, com uma candidatura independente abrigada na Rede.

Estreante, ele terminou a campanha com 136.466 votos (ficou no 14º lugar, distante das duas vagas em disputa) e com duas certezas: o partido criado por Marina Silva (oitava colocada na corrida presidencial, com 1% dos votos) precisa aprender a fazer autocrítica e a ex-senadora deveria exercer maior liderança sobre a legenda nos estados.

Para Cristo, que se aproximou de Marina na pré-campanha, quando ela buscava criar laços com movimentos de renovação, a ex-presidenciável “tem que apoiar” o petista Fernando Haddad no segundo turno. O partido decidiu pregar o não voto em Jair Bolsonaro (PSL). Ao comunicar o posicionamento, a ex-senadora disse que ainda não estava declarando seu voto, mas apenas a posição da Rede Sustentabilidade.

“É o momento de o Brasil se unir pela democracia, e a Marina tem que tomar uma posição. Se ela cometeu um erro em apoiar Aécio [Neves, do PSDB] em 2014, é hora de ela se redimir e apoiar mais que o Haddad, a democracia. Ela pode ser oposição depois, mas apoie agora”, afirma o urbanista, ex-aluno de Harvard (EUA).

“Acho que a Rede tem que fazer mais pontes e apontar menos o dedo”, segue ele sobre a sigla, registrada em 2015 e em situação crítica depois desta eleição, já que não conseguiu ultrapassar a cláusula de barreira e ficará sem acesso a recursos públicos. Só uma deputada federal foi eleita.

O paraibano ficou decepcionado com o partido. “A Rede tinha um potencial imenso, de ser um veículo de mudança e de ponte entre a direita e a esquerda, e de realmente puxar o Brasil para a frente, como dizem. Mas, por falhas estruturais, que resultaram em erros pelo país inteiro, Marina teve o resultado que teve e outros candidatos também. A Rede é uma oportunidade perdida.”

A única chance para a legenda “seguir em frente”, acredita ele, “é ter autocrítica”, já que “critica muito o PT, os demais partidos, mas não se critica. Tudo é sempre culpa dos outros”. Apesar da insatisfação, Cristo fala que segue respeitando a ex-senadora e disposto a colaborar com ela.

“Marina é honesta, mas ela tem que ter mais liderança sobre os diretórios. Porque gente que não compartilha dos mesmos valores democráticos dela dominou os estados.”

Na avaliação do ativista, além da falta de capilaridade e estrutura do partido, a conjuntura pesou no desempenho pífio da presidenciável nas urnas.

“Todo mundo imaginava antes da eleição que quem conseguisse unir o centro ia ganhar, seria o novo Macron [presidente francês que venceu promovendo uma união], só que na verdade foi uma eleição para os polos. E quem não teve uma posição, de um lado ou de outro, esmoreceu”, diz.

Ele cita ainda como exemplo a desidratação de Geraldo Alckmin (PSDB). “É muito triste ver uma mulher como a Marina derreter para 1% de votos e ter menos que o Cabo Daciolo.”

Campanha ao Senado A candidatura de Cristo foi confirmada no limite do prazo, em julho. Ele precisou vencer resistências internas no diretório paulista da Rede, que planejava lançar só uma candidatura ao Senado (uma chapa coletiva, com três mulheres).

O paraibano, instalado em São Paulo há cerca de dois anos, diz que integrantes da sigla tentaram sabotá-lo. “Teve gente lá que combinou de me ofender moralmente, pessoalmente, sem ter um fato, uma prova para falar”, defende-se.

Cristo foi acusado de supervalorizar o próprio currículo, propagandear apoio de pessoas influentes que não tinha e até exagerar ao narrar a história de sua expulsão do morro do Vidigal, no Rio, por traficantes, após tentar desenvolver um projeto social na área.

Ele rebate: “Não é verdade. Se acham que eu não sou ninguém, é a opinião deles”.

O imbróglio só foi resolvido com a intervenção da própria Marina, favorável à participação do novato na eleição. A ex-presidenciável buscava reforçar a aproximação com movimentos de renovação política, já que sua sigla não tinha até aquela altura nenhuma coligação partidária fechada no plano nacional.

Lideranças diziam que a união com grupos como Brasil 21, Agora!, Acredito e Frente Favela Brasil funcionaria como uma aliança simbólica. Só na última hora a Rede conseguiu a adesão do PV (Partido Verde), que garantiu na prática um aumento no tempo de TV e a participação da candidata em debates.

“Minha candidatura esmoreceu quando a Marina fechou a coligação com o PV. Aí os movimentos perderam a importância. Eu achei isso um grande erro estratégico”, queixa-se o arquiteto.

Pedro Henrique de Cristo, que fundou o Brasil 21 e foi candidato ao Senado pela Rede em São Paulo Zanone Fraissat – 13.dez.2017/Folhapress Pedro Henrique de Cristo, que fundou o Brasil 21 e foi candidato ao Senado pela Rede em São Paulo Apesar disso, ele levou a campanha adiante, com equipe própria. Crítico à coligação estadual com o PMN (Partido da Mobilização Nacional), evitou se associar ao candidato apoiado por Marina para o governo estadual, Cláudio Aguiar, que é do PMN.

A Rede não lhe repassou dinheiro do fundo eleitoral (o partido tinha um valor baixo na comparação com outras siglas e destinou metade, R$ 5 milhões, à campanha presidencial). Cristo conseguiu R$ 22 mil com doações de pessoas físicas.

Outra dificuldade foi na hora de veicular sua propaganda no horário eleitoral gratuito. Ele entrou com ação na Justiça para tentar obrigar o partido a encaminhar seu vídeo às emissoras para exibição.

“Eu não tive nem a chance de fazer campanha, mas eu fiquei feliz com o resultado. A gente cresceu no boca a boca”, diz. “Cometi um erro de leitura. Não adianta: o partido tem que querer você.” Antes de se filiar à Rede, vieram sondagens do PPS e do Novo, conta o paraibano; o PT “deu uma xavecada de leve”.

Renovação ‘à Bolsonaro’ “O Bolsonaro fez, infelizmente, o que todo mundo queria: ele fez a renovação”, diz Cristo. Como líder do Brasil 21, ele vem buscando desde o ano passado uma aproximação entre as organizações que incentivam a entrada de novos quadros na política.

Com a eleição de 52 parlamentares para a Câmara dos Deputados e outras dezenas pelo país (só na Assembleia de São Paulo foram 15), o partido do capitão reformado ocupou o espaço que antes se imaginava reservado a grupos com uma visão de centro-esquerda.

“Mas houve vitórias nossas. A Bancada Ativista elegeu a Monica Seixas em São Paulo, a Tabata [Amaral] foi eleita para federal, o pessoal mais conservador do Novo foi eleito. Foram campanhas bem feitas, bonitas.”

Ele acha “que esse afã da mídia por renovação” vai diminuir. “Quem entrou [em cargo] vai deixar de ser renovação e vai virar establishment de alguma maneira. E, enquanto a gente não tiver uma agenda comum, a renovação vai ser paliativa, porque a gente não vai ter um foco para trabalhar juntos.”

O risco, prevê, é que, sem uma “bancada comum da sociedade”, as iniciativas fiquem pulverizadas, restritas apenas a “resultados individuais”.

Cristo nutre agora o sonho de unir alguns dos principais movimentos por um apoio, ainda que crítico, a Haddad no segundo turno. “A gente tem que se aglutinar em torno da democracia. Agora é a chance.”

Folhapress