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Movimento LGBT vai acionar CNJ por fala de juiz contra “ideologia de gênero”

O Conselho Diocesano do Encontro dos Casais com Cristo realizou na última terça-feira (7), em frente à Catedral de Nossa Senhora dos Remédios, em Picos, um ato em defesa dos valores e princípios cristãos e contra a “ideologia de gênero”. A manifestação contou com a presença de diversas pessoas ligadas à Igreja Católica, entre elas o juiz titular da 3ª Vara da Comarca de Picos, Geneci Benevides, que emitiu sua opinião sobre o assunto à imprensa local.

Sua fala no movimento causou insatisfação por parte de grupos ligados ao movimento LGBT, que afirmam que o magistrado se posicionou equivocadamente, “carregado de ódio e de homofobia”.

Diante da situação, 33 entidades ligadas ao Fórum Nacional de Travestis e Transexuais Negras e Negros (FONATRAN) assinaram uma nota pública na qual repudiam, segundo o documento, “falas distorcidas e carregadas de vícios tendenciosos” mencionadas durante o ato.

De acordo com a coordenadora de Direitos Humanos de Picos, Jovanna Cardoso, os atos públicos são livres, porém, não são permitidas falas com discurso de ódio. A coordenadora disse ainda que não se pode relacionar discurso de gênero à homossexualidade e que acionarão o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) em um pedido de providência.

“Não temos nada contra o ato nem contra as pessoas que lá estiveram, o que não podem é usar algumas falas neste ato que eles consideram ser suas ideias, mas na verdade não são opinião, são discursos de ódio”, argumenta Jovanna.

“A gente não vê iniciativa dessas pessoas para combater a pedofilia, mas ve iniciativas para relacionar discussão de gênero a homossexualidade, o que foi um erro, Então a gente reafirma que discurso de ódio não é opinião e vamos tomar nossas providências acionando o CNJ”, completou a coordenadora.

ENTREVISTA: Jovanna Cardoso – Nota Pública

Jovanna Cardoso – Foto: Fabrício Sousa

Liberdade de expressão

Procurado pelo Grande Picos, o juiz Geneci Benevides pontua que participou do ato como cristão católico, no entanto, ao expressar sua compreensão foi interpretado pelo cargo que exerce na magistratura. Segundo ele, há o livre arbítrio e a democracia, por isso, há a liberdade para exercer direitos, desde que não levem prejuízos ao direito de outros.

“Eu não posso me dirigir diretamente às pessoas que fazem a sua opção, seja pelo livre arbítrio ou em função da própria democracia, de querer que as outras pessoas simplesmente aceitem, fiquem calados, pacíficos. Eu não posso é agredir fisicamente, com palavras, com gestos, ou seja, querer que aquela pessoa aceite também a minha ideia de qualquer forma, agora, eu posso dar a minha opinião”, reforça o magistrado.

ENTREVISTA: Geneci Benevides 

O juiz defende que mesmo sendo titular da vara da família pode expressar sua vontade como cidadão e como magistrado e fala sobre o contexto que levou à realização do ato público do dia 7 de novembro. “A natureza só criou dois sexos, quem quiser fazer opção pelo homossexualismo, é livre, tem seu livre arbítrio e a democracia para lhe garantir. Agora, não pode querer impor às outras pessoas que aceitem como se fosse uma imposição e sim apenas com ideias. O que eu digo também é que não precisa ser ensinado, o que precisa ser ensinado é o respeito ao direito”, disse.

O juiz ainda citou o Art.5º da Constituição em seu inciso IV, que assegura ser livre a manifestação do pensamento sendo vedado o anonimato. “O que eu tenho que fazer a mais do que isso é: primeiro, não divulgar notas anônimas; e segundo, respeitar o direito do outro, que no caso é a opção sexual que a pessoa faz, e por outro lado essas pessoas que fazem a sua opção sexual também tem que respeitar o direito do outro de se manifestar livremente, desde que não lhes causem prejuízos ao seu direito, no sentido de incentivar o ódio, como dizem que eu incentivei, o que não o fiz”, finaliza o magistrado.

ENTREVISTA: Geneci Benevides 2